Olhar Atento 5#: Como promover e valorizar o que é nosso

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Jorge Jesus afirma que o campeonato português apenas fica a perder para o campeonato inglês pelas bancadas vazias, ausência de emoção e de paixão das massas associativas. Consigo compreender onde quer chegar com esta afirmação mas parece-me ficar aquém da real distância entre os dois campeonatos.

Como Jesus, também nunca percepcionei no campeonato inglês a qualidade técnica e, essencialmente, táctica que se vê em outros campeonatos. Nomeadamente no português, onde o papel do treinador é tremendo para ultrapassar as distâncias financeiras e de qualidade dos jogadores das grandes equipas para as restantes. Onde a palavra ESTRATÉGIA é a maior valia de cada equipa e onde o jogador técnico, táctico e inteligente é valorizado e defendido pelos treinadores. Os adversários são estudados, a estratégia é definida no sentido de maximizar as possibilidades de somar pontos e a equipa estruturada em função desse plano.

O campeonato inglês, esse, vive essencialmente de emoção! De ataque! Qualquer equipa que entra em campo, contra que adversário for, apresenta jogadores motivados, determinados e que acreditam conseguir marcar em cada lance. É o campeonato dos golos de meia distância, em que cada jogador parece ter um pontapé canhão, capaz de finalizar de belo efeito com especial apetência pelos ângulos das balizas. É o campeonato em que todas as equipas têm, não uma claque, mas sim uma legião de seguidores, cantores de primeira água, que apenas conhecem as líricas do clube do seu coração. Vertigem, velocidade, contra-ataque, incerteza e agressividade são as principais características que distinguem este campeonato dos outros.

Inglaterra é um campeonato sedutor pois vive essencial de apenas duas das quatros fases do jogo: transição ofensiva e transição defensiva. A organização táctica é praticamente nula na maioria das equipas (não devemos confundir as principais equipas com o resto do campeonato). São raras as equipas que se encontram tacticamente equilibradas quando em momento de perda/recuperação de bola. Assim, é privilegiada a procura da velocidade e do contra-ataque. Organização ofensiva e organização defensiva são, não raras vezes, descuradas e menos trabalhadas tacticamente. Em nenhum outro campeonato é possível ver tantas situações de 1x1 nas alas como no campeonato inglês, sem nenhuma cobertura ao desamparado defensor. Em nenhum outro grande campeonato é possível vermos tantas equipas a abdicar de jogar com a defesa em linha subida, procurando beneficiar da regra do fora de jogo. Em Inglaterra, jogadores medianos, desde que embebidos num espírito de luta e sacrifício, podem ser jogadores decisivos. Em nenhum outro campeonato teriam lugar, com tamanha projecção. Para que se possa ser tacticamente forte, têm que se ter equipas tacticamente desenvolvidas, com jogadores que percebem o jogo e que sabem interpretar cada um dos seus momentos. Em Inglaterra, esses jogadores são raros.

Mas a grande característica que distingue o campeonato inglês dos restantes, e coloca, neste ponto, Portugal a um canto, é a mais acarinhada de todas: a mentalidade! De todo e qualquer interveniente. Do mais poderoso dos accionistas, ao melhor treinador, passando pelos jogadores mais carismáticos até ao mais puro dos adeptos. O respeito demonstrado pelo jogo, o carinho e prazer de viver uma partida, dura, limpa, pura, é algo que não se encontra em nenhum outro lugar. Em que outro sítio Ronaldo seria assobiado e altamente contestado pelas simulações grosseiras de faltas que fazia nos primeiros tempos em Terras de Sua Majestade? Onde seria possível um treinador, por abordar negativamente uma arbitragem, ser castigado por diversos jogos? Onde seria possível o publico aplaudir e cantar incessantemente pela sua equipa, desde o primeiro ao último minuto, especialmente quando estão a ser derrotados? Muitas vezes, aplaudir um adversário que tenha sido superior e que tenha mostrado qualidade e ambição para suplantar a sua própria equipa.

Aplaudir o rival que acaba de se sagrar campeão e nos visita nessa jornada. Estão a imaginar isto em Portugal?...

O futebol somos nós. Todos nós! Se nos contentamos com pouco e ambicionamos mesquinhamente suplantarmos os nossos rivais por meandros e artimanhas que nada têm a ver com futebol (jaulas, bolas de golfe, pedradas em automóveis, luzes apagadas em finais de jogos, regulamentos fora da lei, frutas diversas e viagens tropicais), jamais conseguiremos ter aquilo que em Inglaterra é bem sabido: futebol é uma paixão mas igualmente uma indústria! Que tem que ser apelativa, honrosa e sedutora. Deve ser gerida profissionalmente e promovida por todos.

E neste aspecto fundamental… estamos a anos-luz de distância!

Por Bernardo Fernandes

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